Extractos da entrevista de Maria Eugénia Cunhal à Voz do Operário (Ana Goulart), em Janeiro 2013.
... Quando Eugénia Cunhal nasceu, o irmão, Álvaro, era já um jovem de 14 anos. A diferença de idade não impediu que entre os dois se estabelecesse uma amizade profunda, consolidada com afecto, ternura, cumplicidade e camaradagem.
... Eugénia Cunhal, a mais nova dos quatro filhos de Avelino Cunhal e Mercedes Barreirinhas, assume o orgulho de ser "a irmã do Álvaro".
A ideia de um Álvaro Cunhal austero, até um pouco frio, corresponde à verdade?
Não. Era muitíssimo disciplinado, mas não era nada austero, nem nada frio. Era uma pessoa extremamente ternurenta, extremamente afetiva e afetiva com ternura. Gostava de fazer festas, de abraçar, de dar beijinhos. O Álvaro tinha uma expressão que à vista dos outros poderia parecer de uma pessoa um pouco distante, não sei. Porém, não era assim. Era uma pessoa extremamente terna.
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Tinha noção da dimensão e importância da atividade política do seu irmão?
Quando era muita novinha talvez não tivesse...
Lembro-me da primeira vez que fui ao Aljube vê-lo. Foi horrível vê-lo do outro lado das grades, muito magro, muito pálido, com o cabelo cortado muito curto...
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Álvaro Cunhal era uma personalidade multifacetada. Político, sem dúvida, mas também escritor, artista plástico, intelectual, enfim, um homem de cultura. Há alguma influência familiar nesta riqueza e dimensão humana de Álvaro Cunhal?
O meu pai era escritor e pintor, além de advogado e professor. O Álvaro só quando estava preso é que pintava... O meu pai também pintava muito, levava-nos a museus e em casa falava-se muito de arte. Mas claro que se o Álvaro não tivesse talento ficava apreciador, mas não criador, não criativo.
A vossa não era o que se pode designar por "família operária", no entanto, Álvaro Cunhal dedicou toda a sua vida à causa do proletariado...
... o Álvaro dizia que era filho adoptivo do proletariado. Isto é algo que o Álvaro disse muitas vezes.
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Os indispensáveis contributos de Álvaro Cunhal para a liberdade, a paz, a democracia geraram a admiração de muitos homens e mulheres e, muito em particular, dos seus camaradas de partido. Álvaro Cunhal é uma personalidade incontornável da História de Portugal que sempre recusou o culto da personalidade.
Completamente. O Álvaro era uma pessoa humilde, uma pessoa simples que pensava sempre em termos de coletivo. O Álvaro sabia que sozinho não conseguiria fazer muito e o que tinha valor era o coletivo do partido. Álvaro era essencialmente um militante do PCP, embora tivesse responsabilidades. Não tinha uma pontinha de vaidade, nem mesmo uma apreciação demasiada dele próprio.
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O exemplo do Álvaro foi muito importante, porém, foi um exemplo fundamentalmente humano porque quando era miúda ouvia a palavra "comunistas" sem lhe perceber o sentido e foi essa capacidade humana de se interessar pelas pessoas, de ajuda, de amor aos outros que me marcou profundamente.
Saudações à Ana Goulart pelo seu trabalho no jornal na Voz do Operário, e ao Luís Neves pelos excertos que nos trouxeram a este blog parte significativa dessa entrevista tão... Eugénia Cunhal!
ResponderEliminarAbreijos (como diria um amigo nosso)
Eugénia Cunhal... uma figura e uma poeta que merece ser bem mais conhecida!
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