Odiario.info publica hoje dois
textos sobre dois dos mais notáveis intelectuais e revolucionários comunistas
portugueses: Álvaro Cunhal e Bento de Jesus Caraça.
Ambos provaram saber que a sua integração na luta do povo e da classe operária portugueses era um processo de transformação: deles, intelectuais, e dos que com eles lutavam e integravam o Partido Comunista Português.
Álvaro Cunhal distinguiu-se como político, organizador, artista e escritor que soube colocar o seu talento, intelecto e determinação ao serviço do povo, Bento Caraça, apesar de ter morrido prematuramente aos 47 anos de idade, tinha « uma conceção de cultura [é] alheia a todo o elitismo e [é] radicalmente democrática», tendo tido um papel determinante na criação e organização da Biblioteca Cosmos e da Universidade Popular, de que hoje, mais de 70 anos volvidos após a sua criação, ainda se sentem os efeitos.
Este texto é sobre o encontro dedicado a Álvaro Cunhal no Museu do Aljube, sob o tema Intelectuais e Artistas da Resistência.
Ambos provaram saber que a sua integração na luta do povo e da classe operária portugueses era um processo de transformação: deles, intelectuais, e dos que com eles lutavam e integravam o Partido Comunista Português.
Álvaro Cunhal distinguiu-se como político, organizador, artista e escritor que soube colocar o seu talento, intelecto e determinação ao serviço do povo, Bento Caraça, apesar de ter morrido prematuramente aos 47 anos de idade, tinha « uma conceção de cultura [é] alheia a todo o elitismo e [é] radicalmente democrática», tendo tido um papel determinante na criação e organização da Biblioteca Cosmos e da Universidade Popular, de que hoje, mais de 70 anos volvidos após a sua criação, ainda se sentem os efeitos.
Este texto é sobre o encontro dedicado a Álvaro Cunhal no Museu do Aljube, sob o tema Intelectuais e Artistas da Resistência.
O Museu do Aljube continuou um ciclo
de encontros sob o tema Intelectuais e Artistas da Resistência, cujo objectivo
é a «evocação da vida e obra de artistas, de homens de letras e de cientistas
que se opuseram pela vida e a obra, à ditadura fascista».
O primeiro, a 29 de Abril, foi
Manuel Tiago/ Álvaro Cunhal. Seguir-se-ão José Afonso, 27 de Maio, Bento Jesus
Caraça, 17 de Junho e Maria Lamas, 1 de Julho.
A referência a Manuel Tiago/Álvaro
Cunhal percebe-se pela maior notoriedade e divulgação da obra literária de
Álvaro Cunhal, ainda que seja algo redutora no contexto do seu trabalho
intelectual que decorreu em paralelo com a sua intensa actividade política,
prática e teórica, onde se afirma como um dos maiores e mais influentes
pensadores do marxismo-leninismo. Uma constatação que é uma evidência ao ler as
suas Obras Escolhidas, onde se revelam textos cuja autoria a clandestinidade
obrigou ao anonimato ou ao recurso a pseudónimo e se sistematizam os produzidos
depois do 25 de Abril.
No encontro no Museu do Aljube, a
tónica incidiu no trabalho de Álvaro Cunhal na área das artes visuais e da
literatura que foi conhecido em circunstâncias especiais. O escritor Manuel
Tiago desoculta-se quando se sabe que um académico especulava sobre quem seria
a pessoa que usava esse criptónimo e o iria atribuir a outro que não Álvaro
Cunhal, o que o compeliu a reivindicar a autoria dos romances e novelas, só conhecido
por um grupo restritíssimo de camaradas. Os desenhos da prisão, organizados em
duas séries, foram editados com o objectivo declarado de angariar fundos para o
Partido. Nenhum estava assinado, nenhum foi assinado. Só mais tarde, no
contexto das celebrações do seu centenário, é que na XVIII Bienal das Artes
Plásticas da Festa do Avante! se conheceram pinturas e desenhos de alguém que,
confrontado com o seu talento, dizia que gostaria de ter tido tempo para
«aprender a pintar».
No debate, um dos intervenientes
levantou a questão de haver comunistas escritores, como Álvaro Cunhal ou Soeiro
Pereira Gomes e escritores comunistas como José Saramago ou Alves Redol. Um
ponto de vista interessante para a análise crítica de obras em que a actividade
política é central na actividade intelectual. De facto, tanto a obra literária
como a obra pictórica de Álvaro Cunhal têm sempre como referência realidades
bem conhecidas pelo autor no seu percurso político. Esse conhecimento é bem
presente mesmo na tradução do Rei Lear de Shakespeare, nas notas que explicam
opções linguísticas e enquadramentos históricos e sociais.
A diferença maior entre as duas
áreas criativas onde Álvaro Cunhal imprimiu as suas aptidões está nos ambientes
onde decorrem as acções. Nos desenhos, os lugares não são passíveis de
reconhecimento, são abstractos. São raros os elementos arquitectónicos, quando
existem não dão indicações sobre os lugares. O espaço tem a função de conferir
profundidade e liberdade ao movimento das figuras, às situações. Na literatura
os espaços são descritos nos elementos visíveis que até os tornam
identificáveis o que se contrapõe aos espaços abertos dos desenhos em oposição
ao espaço a que o autor estava confinado.
Nos romances é surpreendente, para
quem não conhecia Álvaro Cunhal, a multifacetada riqueza humana das
personagens. Nenhuma é linear nas suas grandezas e nas suas fraquezas. Mesmo os
politicamente mais indiferentes, de duvidosos princípios éticos, são capazes de
um súbito gesto de desprendimento como o passador de Cinco Dias, Cinco Noites.
Nas intervenções introdutórias e no
debate sublinhou-se o profundo humanismo e a enorme dimensão intelectual e
política de Álvaro Cunhal que o tornam uma das personalidades mais marcantes e
mais fascinantes da História de Portugal. O artista e escritor que Álvaro
Cunhal não foi o que poderia ter sido porque, como escreveu no prefácio de A
Arte, o Artista e a Sociedade, «o absorvente empenhamento noutra direcção de
actividade impediu a realização do projecto. Por razões óbvias, o que não foi
possível já não o será». O projecto era rever e actualizar esse ensaio.
Aplica-se a toda a obra artística que nos legou independentemente da qualidade
alcançada.
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