«Álvaro Cunhal é uma personalidade marcante, em Portugal e no mundo

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Chegada de Álvaro Cunhal ao aeroporto da Portela


Excerto de textos mais longos:

«(…)O largo em frente das chegadas do aeroporto foi-se enchendo. Sentia-se qualquer coisa de intraduzível. A vinda de Cunhal, num avião a aterrar na Portela, uma multidão a esperá-lo, um certo aparato militar para o receber e proteger, ultrapassava o que podia ser vivido no prolongamento de um fim de semana que era uma viragem na História. E não só de Portugal.
«A emoção era grande, e o pobre Costa Mendes não resistiu, ali morrendo com o coração a estoirar de espanto!
«O abraço que o Rogério Paulo me deu ficou a selar aquele ambiente irreal, aquela expectativa inacreditável. E foi a Joaquina e o Alfredo, e foi, e foi, e foi…
«De repente, Cunhal aparece, é içado para cima de um carro militar, com a ajuda de soldados, a Luiza Amorim fala. Cunhal, oferecendo a sua bela imagem, impõe respeito e simpatia, calmo mas evidentemente emocionado, também falou.
 «O que disse? O que então devia ser dito: a confiança, a certeza num futuro lutado, a necessidade de se estar à altura das novas condições. “Cunhal ao governo” saiu espontâneo num coral de vozes emocionadas e firmes. E foi um grande, um enorme abraço que nos uniu todos, diferente e igual ao primeiro, ao da saída de Caxias, havia só um par de noites mas que parecia já ter sido há tanto tempo.»

Assim foi a chegada de Álvaro Cunhal a Lisboa, tal como a vivi nos dias 29 e 30 de Abril e a registei em «Porque vivi e quero contar…», com os canos das espingardas dos soldados transformados em jarras para os cravos vermelhos que Cid Simões comprara  aos molhos, pela quase fortuna de 200 escudos, como há dias em conversa me confessou.
O que verdadeiramente importará dizer, com o distanciamento que estes 38 anos já possibilitam, é que o que Álvaro Cunhal disse do cimo daquele carro militar justifica a interpretação de que essa chegada e a intervenção feita fecharam o 25 de Abril e abriram o 1º de Maio… e o rumo às conquistas sociais, no caminho aberto pelo Rumo à Vitória.

Num trecho da sua declaração, Álvaro Cunhal disse:

"[...] O momento exige que se reforce na acção diária a unidade da classe operária, a unidade das massas populares – força motora das grandes transformações sociais; que se alargue e reforce na acção diária a unidade de todos os democratas e patriotas e se desenvolva impetuosamente a sua força organizada; que se reforce a aliança, a cooperação, a solidariedade recíproca entre as massas populares e os oficiais, sargentos, soldados e marinheiros de sentimentos democráticos e liberais. A aliança do povo e dos militares é, na situação específica hoje existente, uma condição essencial para o progresso da democratização da sociedade portuguesa. [...]"

As propostas que Álvaro Cunhal incluiu nesta sua intervenção à chegada ao aeroporto de Lisboa, coerentes com esta afirmação, foram muito claras, e desmentem especulações completamente esvaziadas de rigor (e de pudor), efabulações que levam a tantos preconceitos e os alimentam como arma da luta de classes.
 Foram 5 as propostas:

«1- consolidar e tornar irreversíveis os resultados alcançado pelo MFA de 25 de Abril e nos cinco dias desde então decorridos;
2 – alcançar todas as liberdades democráticas, incluindo a da acção legal dos partidos políticos, e assegurar o seu exercício;
3 – pôr fim imediato à guerra colonial;
4 – alcançar satisfação das reivindicações mais imediatas das massas trabalhadoras;
5 – assegurar a realização de eleições verdadeiramente livres para a Assembleia Constituinte.”

Álvaro Cunhal terminou o seu discurso com uma saudação ao MFA e à Junta de Salvação Nacional, e com as seguintes “palavras de ordem”, secundadas, com emoção e entusiasmo, pela multidão que enchia a plataforma frente ao aeroporto:

“Avante para a conquista definitiva da liberdade!
Avante para o fim imediato da guerra colonial
Avante para a realização de eleições livres e a instauração em Portugal de um regime democrático escolhido pelo povo!”

Ter vivido este episódio é inapagável nas nossas vidas. 
Registá-lo e transmiti-lo será um dever.

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