«Álvaro Cunhal é uma personalidade marcante, em Portugal e no mundo

domingo, 24 de fevereiro de 2013

AO ENCONTRO DO ENCONTRO


Três curtos discursos em homenagem póstuma a Álvaro Cunhal

[primeiro discurso "Uma chama não se prende" AQUI]

2. AO ENCONTRO DO ENCONTRO

para que eu pudesse fazer o meu caminho pelo
caminho comum e partilhar o tempo
a invenção, o desejo, o trabalho e a luta por
uma terra sem amos

para que nas histórias lidas desde a infância
eu aprendesse a descobrir os meus
a articular aquelas palavras
sobre as quais o confronto ainda não terminou
e assim nos movem para que eu pudesse sentir-me esperado sobre
esta terra tão dilacerantemente bela
e tão insuportavelmente devasta

para que tendo aprendido a falar eu tivesse
podido encontrar os outros na minha língua
para que eu pudesse olhar, estender as mãos
e encontrar o corpo do mundo
como a minha tarefa comum

para que eu viesse e pudesse chegar a esta reunião contínua
esta assembleia de homens
explorados e livres, oprimidos e
livres

foi necessário que a convocatória chegasse até mim
foi necessário que eles continuassem reunidos e me esperassem
foi necessário que tu tivesses vindo e chegado antes
que te tivessem acolhido e te tivessem transformado o nome próprio
em nome comum

Manuel Gusmão

2 comentários:

  1. Gostei deste poema.Vou jâ copiâ-lo !

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  2. Manuel Gusmão: Que bela continuação do poema 1 já postado. Apelar à memória dos que partem e continuam ao nosso lado. Apelar ao conhecimento das lutas e vitórias de muitas gerações de comunistas marxistas-leninistas que transformaram e transformam o mundo. Apelar à continuidade da luta e à confiança. Apelar a que as ruas se encham e os locais de trabalho se esvaziem porque estamos em luta. Apelar sobretudo a não termos vergonha do passado que nos constrói - como em tempos disseste no "Avante!" sobre UTR - como "homens humanos" (terá sido assim?). Apelar porque o futuro nos pertence apesar das reviravoltas dos anos noventa apesar dos passos atrás.
    Espero impaciente - não podia ser de outra forma - o poema 3 que fechará por ora os discursos. E, sobretudo, felicito-te: é para mim o melhor escrito poético sobre o Álvaro. E desjo que os três discursos passem a ser ouvidos nas evocações que se fazem neste centenário.

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