Quem se não lembra do Centro de Trabalho da António Serpa e da azáfama que por lá se vivia? Reuniões até às tantas da manhã, conferências, debates… camaradas entrando e saindo, num constante rodopio, salas repletas de cartazes, cola, pincéis, tintas. Um verdadeiro Centro de Trabalho,!...
Em contraste com as amplas instalações, a cozinha era minúscula e vetusta, com lava loiças de pedra e chaminé a condizer. Localizada nas traseiras do andar, dava para uma escada de salvação, que como tarefa de segurança mantínhamos sempre sob vigia.
Porque se iria realizar uma reunião, não posso recordar a que nível, foram convocados uns tantos camaradas para tarefas de apoio, entre os quais me encontrei.
Na cozinha, sobre uma mesa, estavam os pratos, um cestinho com pão e os talheres na gaveta, um pano da loiça junto à chaminé e sobre o fogão um tacho com arroz de ervilhas e uma travessa com pastéis de bacalhau. Chegada a hora de almoço, cada um de nós deu início, ao pantagruélico repasto, de pé, como se nos encontrássemos num qualquer festival, com a pequena diferença de que, à medida que terminávamos a refeição, lavávamos os nossos pratos e talheres, deixando tudo em condições para que outros camaradas pudessem encontrar a cozinha pronta a servir outra refeição. O camarada Álvaro, como qualquer um de nós, e porque não, chegou, serviu-se e, quando se aproximou para lavar o prato e o talher que utilizara, um outro camarada que estava lavando a loiça de que se servira, e porque estava com as mãos na massa, como é costume dizer-se, estendeu o braço para pegar no prato do Álvaro Cunhal que delicadamente declinou a atenção, lavando e enxugando a sua loiça, deixando tudo como qualquer um de nós devia proceder.
São também estes pequenos gestos, aparentemente sem importância, que desenham e caracterizam a personalidade de um indivíduo e servem de exemplo, sobretudo para os que não se consideram iguais a todos os outros.
Respondendo à tua pergunta inicial, só não se podem lembrar, naturalmente, os mais jovens. Lamentável é que alguns dos mais velhos se queiram esquecer...
ResponderEliminarTu lembraste-nos, e oportunamente.
Saudações!
Cid,
ResponderEliminarNos meses que se seguiram à Revolução de Abril e com tanto a acontecer no nosso país quando todos eram convocados para defender as conquistas houve tempo para formar núcleos de Pioneiros. No final de 1974, início de 1975 formou-se um núcleo em Sacavém e eu e a minha irmã começamos a participar nas atividades. Eu tinha pouco mais de dez anos e guardo gratas recordações desses anos.
Enquadrando-me no que nos dás a conhecer neste texto também me recordo do Álvaro estar connosco: nos encontros e no espaço dedicado às crianças desde a primeira Festa do "Avante!" (Parque D?). De ter essa mesma atitude: ser um de nós no cumprimento das tarefas. De chegar junto de nós e de falar connosco: perguntava-nos o nome, o que gostavamos de fazer, o que gostavamos de estudar.
ResponderEliminarÊ atravês dos pequenos actos,que se revela o carâcter de um grande homem.
Pequenos grandes gestos!!!!
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