O Cinema que Amamos
Fui ver (e gostei muito!) a recente versão para cinema da adaptação para a TV, de 2005, realizada pelo cineasta Joaquim Leitão (Lisboa,
21-Dez-1956), com argumento de
outro cineasta,
Luís Filipe Rocha (Lisboa, 16-Nov-1947), de “ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS”, obra maior, em minha opinião, da literatura portuguesa, por retratar, julgo que como nenhuma outra, a luta da Resistência Clandestina contra o fascismo. É em 1944 que se situa a acção do romance de Manuel Tiago, pseudónimo literário de Álvaro Cunhal (Coimbra, 10-Nov-1913 –
Lisboa, 13-Jun-2005).
A propósito, devo dizer, numa opinião muito pessoal, que a Literatura tem para mim uma significativa vantagem sobre o Cinema, do ponto de vista da liberdade de
interpretação pelo leitor/espectador.
Será por isso que as adaptações ao cinema das grandes obras
literárias raramente conseguem atingir o mesmo nível de qualidade. Ressalvem-se algumas excepções, como Kubrick / Nabukov, em “Lolita” ou Oliveira /
Agustina, em “Vale Abraão”. Não se espere por isso que uma obra de inegável qualidade como é este filme de
Joaquim Leitão consiga
guindar-se ao nível da obra-prima que é o romance. Mas julgo que se trata de um belíssima
obra de cinema, com uma notabílissima direcção de actores, de que não vou destacar nomes porque me parece haver uma grande
sintonia entre eles e a obra que
representaram e dá a sensação de terem feito o seu melhor e são todos muito bons! Obra que julgo nos consegue apesar de tudo dar o essencial daqueles retratos humanos que o romance nos oferece em toda a sua
complexidade inerente à natureza humana.
Para o espectador,
a imagem que fica da obra, apesar da luta sem tréguas travada contra o fascismo, pelos militantes clandestinos do Partido Comunista Português, ilegal para o regime, luta que se salda por vezes por uma enorme repressão, sangrenta, impiedosa e desumana, contra quem não utiliza
a violência e apenas
encabeça as lutas pelas reivindicações de melhorias de vida e conquista de
direitos inerentes à condição humana, a obra constitui um grito de esperança e não nos esqueçamos que se desenrola quando ainda a Segunda Guerra
Mundial decorria (1939-1945), de esperança na
medida em que os fascistas, mesmo
prendendo, torturando, assassinando os resistentes mais destacados, nunca conseguem calar a revolta do povo, e novos elementos revolucionários surgem para substituir os presos e os
assassinados pelos fascistas.
Esta luta só iria terminar em 1974, com a vitória da Resistência e a eclosão da Revolução de
Abril. E o filme também mostra, muito bem, que raramente há
desumanidade entre os oprimidos, porque são superiores os seus
objectivos, de transformação da sociedade, no sentido da justiça social, da liberdade,
da igualdade e da fraternidade entre os homens.
Peço aos amigos que não deixem de ver a obra, embora ela esteja restringida a duas únicas sessões diárias, em salas diferentes,
nesta grande urbe de um milhão de habitantes onde vivemos onde proliferam os cinemas “multiplexes”, mas em geral com programações muito medíocres. Porquê?
Gostava de terminar com o parágrafo final de um belo prefácio sobre o romance “ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS”, escrito por um dos maiores especialistas
portugueses em Literatura, o professor universitário Óscar Lopes (Leça da Palmeira, 2-Out-1917 – Matosinhos, 22-Mar-2013):
“(...)
Evidenciam-nos que a vida é inesgotável; repetindo Guimarães Rosa, diria que a lição do livro é a de
que viver (ou Viver, com
maíscula) é perigoso. Sentem-no aqueles que inteiramente se comprometem a melhorá-la. E eles até mesmo nos ajudam a
sentir que muito existe ainda sem nome, à espera de coragem, pois de coragem é, em grande parte, feita a capacidade de entender, de sentir a fundo, e de acertar.”
Também a imagem anexa mostra parte desse prefácio. Para aqueles que, por preconceito, não leram a obra talvez estas
frases sirvam de incentivo.
Nota:
Este texto foi escrito a pensar no
Facebook, na Internet e em quem nos lê e também nos Amigos que por lá se encontram, que sabemos que arriscaram a sua vida para melhorar a de todos nós. Tenho
uma enorme admiração por eles. Afinal são eles os heróis da obra “ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS”.
Adendas à posteriori:
Passe a publicidade,
este texto e tal como outros do
modesto escriba, podem ser lidos em http://www.na-cidadebranca.blogspot.com
Se algum dos amigos lá chegar, obrigado.
E para terminar, se algum dos amigos vier argumentar contra a minha
polémica afirmação sobre as relações entre Cinema e Literatura, talvez eu aceite a inversa, se me falarem por exemplo de
Federico Fellini e, principalmente, de Ingmar Bergman (lembrar a sua derradeira obra-prima "Sarabanda" ...
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