PIDE lançou "procura
frenética" a Cunhal um dia após fuga da prisão -- historiador
Lusa 27 Nov, 2015| Cultura
Um dia depois da fuga de Álvaro Cunhal da prisão de
Peniche, em 1960, a PIDE iniciou uma "procura frenética" do histórico
comunista, caindo por terra a tese da ajuda do regime à evasão, defende José
Pacheco Pereira.
"Por todo o país, os postos da
PIDE [polícia política do regime ditatorial do Estado Novo] são alertados para
a fuga, em particular os que estão perto da fronteira: Faro, Beja, Segura,
Barca de Alva. A censura postal reforça-se com instruções da PIDE para o
Correio-Mor. A colaboração com a polícia espanhola é pedida e acompanhada em
detalhe", escreve o historiador, no quarto volume da biografia política de
Álvaro Cunhal.
Após 11 anos detido, com uma das
penas mais longas do século XX português, "só ultrapassada pela de outros
comunistas presos", Álvaro Cunhal, então com 46 anos, foge da prisão a 03
de janeiro de 1960, e era "o homem mais procurado pela PIDE".
"Buscas e operações nas
estradas, pontes de Vila Franca de Xira e de D. Luis no Porto são vigiadas,
`aparato bélico` na região de Loures, Pegões, Vendas Novas, Loures e Vila
Franca de Xira, paragens de comboio seguidas de revistas às carruagens e aos
passageiros, colocação nas principais estradas e cruzamentos de brigadas da GNR
foram a norma nos dias seguintes à fuga", prossegue o autor do livro, que
será lançado no início de dezembro.
Os comunistas Álvaro Cunhal, Jaime
Serra, Joaquim Gomes, Francisco Miguel, Guilherme da Costa Carvalho, Pedro
Soares, Carlos Costa, Francisco Martins Rodrigues, Rogério de Carvalho e José
Carlos fogem do Forte de Peniche com a ajuda de um guarda da GNR e depois de
imobilizarem o guarda do seu piso com clorofórmio.
No exterior, automóveis aguardavam
os fugitivos, que foram levados para casas clandestinas.
A evasão do dirigente histórico do
Partido Comunista Português (PCP) foi considerada uma das fugas mais
espetaculares da história do Estado Novo, tendo envolvido a descida das
muralhas da prisão junto ao mar por diversos panos amarrados entre si.
"Não tem nenhum fundamento a
tese de que Álvaro Cunhal e os seus companheiros tinham sido deixados fugir
pela polícia com a cumplicidade das mais altas autoridades do regime, inclusive
de Salazar", sustenta Pacheco Pereira acrescentando que "desde que se
apercebeu da fuga, a PIDE começa a procurar os presos intensamente".
O autor refere que "o mesmo se
pode dizer de teorias conspirativas originadas pelo sucesso de uma fuga
aparentemente impossível sobre a presença de um helicóptero, um submarino ou um
barco soviético ou estrangeiro ao largo de Peniche".
Nesta obra de 480 páginas, Pacheco
Pereira abarca o período da vida de Álvaro Cunhal entre 1960 e 1968.
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