Numa aula-debate no Liceu Camões, em
Lisboa, dedicada ao líder histórico comunista.
Marcelo destaca
papel de Álvaro Cunhal e PCP na democracia
Marcelo
Rebelo de Sousa disse entender que os comunistas viabilizam atualmente o
Governo socialista como "um mal menor"
O Presidente
da República destacou hoje o papel de Álvaro Cunhal na democracia portuguesa e
também do PCP, partido que considera apoiar o Governo PS como "um mal
menor" e que "quando ajusta um acordo o cumpre de forma
definitiva".
Numa
aula-debate no Liceu Camões, em Lisboa, dedicada ao líder histórico comunista,
o chefe de Estado percorreu os principais momentos da vida de Álvaro Cunhal,
deixando alguns comentários sobre a situação política atual, em que o PCP
suporta no parlamento, através de uma posição política conjunta, um Governo
minoritário do PS.
"O PCP
por vezes é prudente em termos de posições políticas. A minha experiência é que
normalmente, quando ajusta um acordo, cumpre o acordo, de forma pontual,
definitiva e sem angústias. Ou melhor, pode ter angústias mas cumpre",
afirmou o Presidente da República, em resposta a uma pergunta de um professor
sobre algum conservadorismo de posições dos comunistas, em matéria de costumes.
Considerando
que o PCP está permanentemente a avaliar "a correlação de forças que
existe na sociedade", e não apenas do seu eleitorado, Marcelo Rebelo de
Sousa disse entender que os comunistas viabilizam atualmente o Governo
socialista como "um mal menor".
"Mais
vale este Governo com algumas conquistas e alguns passos ajustados com o PS do
que um governo que seria mais neoliberal, com mais economia de mercado, maior
peso das políticas do euro, é uma escolha nesta base", interpretou o
Presidente da República.
Numa 'aula'
de mais de 90 minutos num auditório completamente cheio e em que foi recebido
com aplausos entusiásticos, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que o PCP
"continua a ser um partido relevante da esquerda portuguesa, a manter uma
percentagem eleitoral significativa, a manter um peso na vida sindical muito
importante e a manter peso nas autarquias".
Já sobre
Cunhal, o chefe de Estado sublinhou que "marcou e marca a democracia
portuguesa", tendo sido essa a razão pela qual incluiu o Liceu Camões -
onde o antigo secretário-geral do PCP estudou entre os 11 e os 17 anos -- numa
ronda pelas escolas por onde passaram as que elege como quatro figuras centrais
da democracia.
Marcelo já
visitou o liceu de Sá Carneiro, no Porto, o colégio onde estudou Mário Soares
e, até ao final do mês, disse que conta ainda dar uma aula no liceu de Freitas
do Amaral.
Depois,
revelou, terá uma iniciativa semelhante em relação aos anteriores Presidentes
da República, além de Mário Soares: Ramalho Eanes, Jorge Sampaio e Cavaco
Silva.
Nesta aula,
com direito a perguntas dos alunos no final, o chefe de Estado sublinhou que,
destas quatro figuras centrais da democracia portuguesa, foi Cunhal que pior
conheceu, só tendo estado com ele presencialmente por duas vezes, uma delas na
aprovação da Constituição, em abril de 1976.
"Álvaro
Cunhal realizou largamente muito do que tinha sonhado em termos de vida, embora
no final da vida tenha tido que lidar com realidades que não correspondiam aos
seus sonhos", afirmou, referindo-se à implosão da União Soviética.
Destacando
que dois terços da vida de Cunhal foram vividos "antes da
democracia", Marcelo considerou que muitos jovens comunistas que chegam ao
partido já depois de ter deixado a liderança, em 1992, o continuam a ter como
"grande referência teórica, doutrinária e política".
"A
influência do PCP e de Cunhal existiu em vários momentos da democracia (...) e
foi para além da influência do seu partido", afirmou.
No final da
aula, além dos habituais pedidos de fotografias e autógrafos, o Presidente da
República recebeu "uma prendinha": um retrato seu feito por uma das
turmas de arte da escola, que disse esperar visitar uma próxima vez "já
depois de realizadas as obras prometidas há muito".
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