«Álvaro Cunhal é uma personalidade marcante, em Portugal e no mundo

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O Partido com paredes de vidro e os cultos (no prefácio à 6ª edição)

Se outros méritos não tivesse a iniciativa do PCP (e este ”blog”), teria o de fazer alguns debruçarem-se sobre a vida, o pensamento e a luta de Álvaro Cunhal. E assim esclarecer, com a  ajuda do camarada, certos temas delicados. Como o que a própria iniciativa parece ter levantado do culto da personalidade (e dos mortos). Já neste “blog” ele foi abordado, e mereceu a única reserva em comentário que até agora aqui chegou. Com a resposta ao comentário não se encerrou o tema, embora não se pretenda fazer dele um caso.
Acontece que, a partir da 1ª edição de O Partido com paredes de vidro, se pode ler o prefácio de 2002 (6ª edição), do próprio Álvaro Cunhal, e será útil juntar o que ele entendeu de acrescentar quase 20 anos passados. Aqui fica:

«(...)
No trabalho de direcção, o princípio do trabalho colectivo assume importância fundamental e o valor de uma «lei» (p. 111). Tem em si a contribuição individual e o mérito e a experiência de cada um dos que nele participam (p. 133).
Dirigir é «decidir, orientar, dar directrizes e indicações, distribuir e atribuir tarefas», examinar as situações e encontrar respostas para elas (p. 129). É «explicar, ajudar, convencer, dinamizar» (pp. 129-130). E realizar esse trabalho em ligação estreita com a base do partido, com a classe operária, com as massas trabalhadoras, com as populações.
A prática de ouvir as opiniões discordantes manifestadas no exercício do direito de criticar e de propor é um elemento necessário à reflexão de quem dirige. Assim as decisões convencem e ganham prestígio e autoridade.
É de combater a tendência para — em vez de dirigir — mandar, comandar, dar ordens (p. 222), impor decisões, deixar que medre «o elogio, a lisonja, o aplauso sistemático» (p. 134) a tal ou tal dirigente mais responsável, vício que quem o tem cada vez sente mais necessitar dele.
O chamado «culto da personalidade» constituiu uma terrível experiência de que ainda hoje é necessário extrair múltiplas lições. A atribuição a um «chefe» dos êxitos que se devem a muitos outros militantes; a aceitação, por sistema, «cega» ou não reflectida, das suas opiniões e decisões; a crença na sua infalibilidade; as medidas administrativas, disciplinares e repressivas contra os discordantes e os críticos – são de combater, mesmo que se manifestem de forma incipiente.
E, se se combate o «culto» dos vivos, é também necessário contrariar o «culto» dos mortos.
Dirigindo a revolução social mais extraordinária de todos os tempos, Lénine foi um dirigente revolucionário com um papel sem paralelo na história da humanidade. No desenvolvimento criativo da obra de Marx, a sua obra teórica justificou que à teoria revolucionária dos comunistas fosse dado o nome de «marxismo- leninismo».
É porém um erro (como o ensaio aponta) «utilizar cada frase de Lénine como verdade universal, eterna e intocável» e contrariar e abafar a investigação dos novos fenómenos, não verificados no tempo de Lénine, com citações de Lénine inadequadas para o efeito (p. 140).
Referindo-se de forma crítica, sem explicitar, a certo monumento comemorativo da memória de Lénine na União Soviética, o ensaio expressou assim uma crítica directa à estátua de Lénine no conjunto arquitectónico: «Um Mestre é verdadeiramente um Mestre, se os discípulos não fazem do Mestre um Deus.» (p. 141.)
(...)»

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