Continuação do ponto 3. Sectarismo e oportunismo da carta de Álvaro Cunhal, enviada à Direcção do Partido em 1952 (!), da Cadeia Penitenciária de Lisboa, onde estava em regime de isolamento - que durou 8 anos! -, e que se transcreve apenas para ilustrar algumas características da personalidade (e da influência) de Álvaro Cunhal no colectivo que integrava e que sempre fez prevalecer. Assim se pensa, muito modestamente, contribuir para que o seu exemplo se projecte na actualidade e no futuro.
À primeira vista (ou leitura) poderá parecer que estes trechos têm uma valia histórica, ultrapassada para a acção de hoje, porque "as condições portuguesas" são outras, não se vive em fascismo, não há a explícita, clara, dicotomia entre actividade legal e actividade ilegal, mas - a nosso ver, na nossa leitura - muito se aprende, para hoje, com o estudo destes textos. Sobretudo, a lição da permanente base da reflexão, as massas e a sua luta, como esclarece-las, como mobilizá-las e fazer delas o que são: o motor da História. E tal é o papel da vanguarda.
Escrevia Álvaro Cunhal:
«(...) Nas condições portuguesas, o legalismo da actividade pode em muitos casos ser uma manifestação sectária. Quando, por exemplo, a actividade legal expõe imediata e directamente os combatentes à repressão, o apresentar como únicas formas de organização e de luta essas formas legais e exigir que as massas as adoptem pode levar a vanguarda a expor-se isolada à ofensiva fascista, separando-se das massas e incapacitando-se para conduzir estas. Também nas condições portuguesas, a defesa da actividade clandestina pode ser uma manifestação oportunista. Quando, por exemplo, certos democratas e certos camaradas dizem que nada se pode fazer legalmente, que agir legalmente é queimar camaradas, que se opõem à constituição e acção dos organismos do MND*, abaixo assinados, etc., etc., eles estão efectivamente defendendo uma política oportunista e procurando esconder a sua insuficiente diligência para atrair massas a formas legais de luta. O sectarismo e o oportunismo manifestam-se tanto no "legalismo" como na oposição à actividade legal nas condições fascistas. A melhor forma de luta contra essas tendências prejudiciais é a justa associação do trabalho legal e ilegal, o que é muito difícil fazer com correcção, mas que se deve esperar que a Direcção do Partido o consiga. Isto são termos bastante vagos que os camaradas desculparão. Mas não nos sentimos infelizmente preparados para abordar questões práticas de organização e de acção de massas.» (pág. 234 do Tomo II)
* - Movimento Nacional Democrático
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