de dias de agora:
(...)
&-----&-----&
Mas agora, neste começo de manhã, ainda queria deixar alguma coisa sobre o
artigo-testemunho do Borges Coelho sobre Álvaro Cunhal na Seara Nova.
&-----&-----&
Encerrar o episódio em que sinto muito ter aprendido.
&-----&-----&
Emocionando-me, mas sem perder a permanente atitude crítica, sem deixar de procurar o fundo das coisas, de buscar a compreensão do que está por detrás, ou a raíz das conexões.
&-----&-----&
Escreve BC, para acabar o seu comovente testemunho (reitero sempre esta
minha adjectivação), que “nos últimos anos, meio cego, compararam-no ao
rei Lear (a Cunhal… mas quem o fez?), mas a mente continuava
ágil”, o que parece ser uma mistura do que não é misturável: a
comparação com o rei Lear (feita por quem?), a sua lucidez, e intervenção
militante até ao fim, e o estar quase cego.
&-----&-----&
Depois, BC diz que AC “não saía”, e que melhor se diria que saía
pouco (uma vez que até ao fim foi aceitando convites, e fez depoimentos e deu
entrevistas à comunicação social, até em casa, a Judite de Sousa por exemplo),
o que se compreenderá pela idade e estado de saúde.
&-----&-----&
Mas dizer que AC não saía porque “queria preservar a imagem e a dignidade
(porque) sabia que era um símbolo, quase mítico, de décadas de luta e
sacrifício”, parece-nos afirmação arrojada e interpretação demasiado
subjectiva, colocando razões em outros que o outro não pode confirmar ou
infirmar.
&-----&-----&
Nem o faria. Decerto...
&-----&-----&
E se Cunhal sempre – e não só depois do XX Congresso do PCUS e do relatório
Krutchev – combateu o culto da (pelo menos da sua) personalidade, não seria a
preservação do seu valor de símbolo, de mito, que o levaria a “não sair”, a não
continuar, nas condições em o podia fazer, a intervir coerente e
militantemente.
&-----&-----&
Que houve quem procurasse defendê-lo, pela sua idade e estado de saúde, isso
decerto acontecia, até por afecto e humanidade, mas AC nunca se teria poupado
para preservar imagem e “qualidade” de mito.
&-----&-----&
O que sempre terá querido, e hoje se pretende assinalar com toda a dignidade, foi ser exemplo de determinação e coerência.
&-----&-----&
Mas,
que fique muito claro, para estas folhas quase confessionais: estas reflexões em
nada pretendem diminuir o impressionante (comovente!) testemunho de Borges Coelho, um marco nestas comemorações.
&-----&-----&
Antes aproveitá-lo para mais um pouco aprender com Álvaro Cunhal, e com a decisão
de se fazer de 2013 o ano do seu centenário.
&-----&-----&
(...)
Sem comentários:
Enviar um comentário