A consigna de Lenine deve ser
(e é!, mesmo que o sujeito isso desconheça) de prática permanente e consciente.
Aprender, aprender sempre… aprende-se,
sempre. Embora haja momentos e circunstâncias em que mais se aprende. Sempre.
A assinalação do centenário
de Álvaro Cunhal tem provocado momentos desses e circunstâncias dessas.
Cada um/a terá as suas experiências.
Pelo meu lado, além de outros
momentos e de outras circunstâncias, a leitura (nalguns casos, releitura) de
trechos nas Obras Escolhidas tem sido uma aprendizagem, um
treino, um exercício, um prazer, um sofrimento, dependendo das obras escolhidas.
Os “Documentos da Cadeia
Penitenciária de Lisboa” (páginas 109 a 228 do Tomo II – 1947-1964) são
documentos impressionantes de resistência pessoal, de luta quotidiana, exemplos
de contenção e firmeza.
Já conhecendo o CD-Rom Cadernos
da prisão,
a sua leitura em papel oferece outra… leitura. E
transcrição.
A grande dificuldade, que
decerto – e muito maior e bem mais responsável – confrontou quem teve a tarefa
de “escolher as obras escolhidas”, está na selecção de tudo o que convida (ou convoca) a
ser transcrito.
São verdadeiras lições de luta
sem tréguas, quotidiana, coerente e sempre conciliando dignidade com correcção
para com o outro (mesmo sendo o outro o carcereiro em prisão do fascismo).
O que ainda mais impressiona
é que, além dessa luta quotidiana, do estudo e produção constantes, Álvaro
Cunhal tenha conseguido manter contactos com o Partido –por meios que nem se
conseguem imaginar, dado o apertadíssimo controlo e vigilância –, como o provam
duas cartas desse período (uma de 1952, outra de 1954, com uma “Nota sobre o
programa do PCP” ). Na primeira, Álvaro Cunhal começa por dizer aos “queridos
camaradas” não poder “ir além de pontos dispersos abordados ligeiramente
pois para mais não nos encontramos preparados”!
E esses pontos dispersos
estão arrumados por 1. Defesa da repressão. 2. Novas perspectivas, 3. Sectarismo
e oportunismo, 4. Imprensa do Partido, 5. Atitude ante a polícia, 6. “Política
de transição”, 7. Estímulo aos camaradas presos.
Em cada um destes pontos
muito se aprenderia, e muito se aprende… e ficaria tempos perdidos ganhos a ler e a transcrever. Deixo uma nota curiosa sobre
a imprensa do Partido:
«… Apenas três objecções:
1. – papel demasiado grosso o que, com as 6 páginas do Avante!, deve criar dificuldades conspirativas de transporte;
2. – tipo demasiado pequeno e impressão pouco nítida;
3. – frequentes e graves erros tipográficos.
1. – papel demasiado grosso o que, com as 6 páginas do Avante!, deve criar dificuldades conspirativas de transporte;
2. – tipo demasiado pequeno e impressão pouco nítida;
3. – frequentes e graves erros tipográficos.
Os camaradas certamente
notaram já e procuram eliminar na medida do possível estas deficiências. Em
relação à última aqui se faz entretanto uma sugestão prática: que cada
tipografia do Partido seja equipada com um Prontuário Ortográfico e que
seja colocada a tarefa aos camaradas compositores de aprenderem a escrever
correctamente o português.»
Mais excertos procurarei transcrever.
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