«Álvaro Cunhal é uma personalidade marcante, em Portugal e no mundo

sábado, 15 de junho de 2013

15 de Junho de 2005 - Um doloroso silêncio


 
Um doloroso silêncio

Atraída por um sentimento difuso, de todas as artérias convergentes à Praça do Chile, a tristeza tornava-se multidão. Uma amálgama de classes sociais de três gerações unidas numa dor comum. Não dialogavam, olhavam-se surpresas procurando a resposta, o porquê de ali se encontrarem esperando que surgisse, numa lágrima ou soluço, a resposta que a dor retida recusava. 

Um cravo vermelho floria junto ao rosto de uma jovem que, abraçando-o, aguardava o momento de o devolver a quem até ali a trouxera sem disso ter conhecimento. A flor pertencia a quem lhe dera o mais perfeito exemplo de como se constrói a liberdade. Pálida, de semblante carregado, de quando em vez erguia-se em bicos de pés de entre o povo que a envolvia, não descortinando mais do que gente caminhando em sua direcção. Dentes cerrados, olhos marejados, um homem vigoroso engolia um soluço. Ninguém se saudava, poucos se conheciam, tinham no entanto um compromisso comum, uma dívida a saldar e aguardavam o credor. Se alguém soltasse a centelha de dor que a custo retinha faria explodir a mágoa que cada vez mais se adensava, aguardando o extravasar da angústia.

Em comunhão, todos sentiam que algo de diferente acontecera, que a história na sua pulsão inexorável continuaria o seu curso mas que havia perdido um protagonista que deixara marca indelével no seu percurso. Um jovem casal de mãos dadas retido no espaço e como que parado no tempo, um ancião esgueirando-se por entre a multidão caminhando num labirinto de interrogações procurava a saída que não esperava encontrar. Esgotava-se a tarde, um bruaà como indicador faz convergir todos os olhares para o cortejo que, ao longe, se vislumbrava em nossa direcção. vem, murmurava-se como se anunciássemos a chegada de um amigo a um encontro combinado, vem pronunciava-se num murmúrio abafado pela emoção. Foi o nosso último e derradeiro encontro. Lançámos-lhe cravos como gritos de silêncio porque as palavras surgiam deslocadas.

A maior manifestação de reconhecimento e dor de que se guarda memória, não se antevendo quem possa suscitar igual merecimento

3 comentários:

  1. Assim foi para muitos e muitos milhares.
    E assim continua a ser.
    Com a exigência de estudo, rigor, coerência, humanidade.
    Aprender, aprender sempre.

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  2. Cide e Sérgio,
    E ao nosso lado mulheres alentejanas traziam duas bandeiras comunistas: dois pedacinhos de pano - pouco maiores que a minha mão aberta -, dum vermelho já esbatido, mas vermelho, com a foice, o martelo e as letras P.C.P. num belo conjunto bordado à mão motivou-me a perguntar-lhes e a ouvir a resposta que tanto desejava: "Sim, estas são as nossas bandeiras feitas na clandestinidade". E, as bandeiras que tanto me cativaram com os símbolos inversamente posicionados foram-me colocadas na mão. E pude sentir o seu pano grosso e nelas a grandeza e a justeza da nossa luta!

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  3. ANA;LINDO TESTEMUNHO.QUANDO CONVERSAMOS AINDA NÃO SABIA DA TUA VISITA.

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