«Álvaro Cunhal é uma personalidade marcante, em Portugal e no mundo

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Entre as 100 figuras portuguesas que moldaram o século XX, segundo o Expresso

Entre os 100 portugueses que o Expresso (por Henrique Monteiro e Rui Ramos, na Revista) escolheu como as figuras que moldaram os 100 anos do século XX, não podia faltar Álvaro Cunhal.
As quatro páginas que lhe são dedicadas (duas com uma fotografia) ilustram bem o embaraço que Henrique Monteiro, o autor do texto, confessa ao iniciá-lo:
«Escrever sobre Álvaro Cunhal pode ser das tarefas mais traiçoeiras do mundo».
E explica porquê, ao mesmo tempo que, logo de rajada, revela os preconceitos, as contradições, as incorrecções, até o mau trabalho profissional, de que eivou o seu escrito.
«Começamos por onde? Pela sua simpatia ou pela sua intolerância? Peça coerência política ou pela incoerência de estar sempre de acordo com Moscovo, mesmo quando Moscovo mudava? Pela enorme cultura ou por uma certa simplicidade, misturada com falsa modéstia, que gostava de fazer passar? Pelo homem ou pelo político?».
Nestas perguntas está Álvaro Cunhal (simpático, coerente, culto, simples, homem e político, ou político porque homem), e está o que o preconceito e a luta ideológica obriga a dar como caricatura e anti-retrato de Álvaro Cunhal. E o texto mostra o cumprimento dessa tarefa traiçoeira de, sem deixar de dizer o que Cunhal foi, fazer a contra-apologia por via do que Cunhal não foi mas que deve ser dito que foi (aqui mais uma vez...). Além de imprecisões e erros inaceitáveis, mas que mostram alguma falta de rigor e profissionalismo. 
Exemplos:

  • «... Mas em 1949 foi de novo preso e encarcerado no forte-prisão de Peniche, onde permanecerá 11 anos - oito dos quais em isolamento.»
  • «... em 1960, que nasce, da ligação com a militante Maria Moreira, a única filha, Ana Maria, hoje com 43 anos...»
  • «... sem nunca esclarecer de onde viera (Cunhal jamais revelava esses dados ao certo) aterrou no aeroporto da Portela, proveniente de Paris.»
  • «Logo ali, saltou para cima de um Chaimite (carro de combate) recriando assim a chegada Lenine, fundador da URSS, a São Petersburgo.» (não resisto a comentar: falso e ridículo!)
  • «... três anos depois da queda do Muro de Berlim, que revelou, aos que ainda não tinham dado por isso, a miséria do comunismo...»
  • «... menos ainda foi seduzido pela perestroika de Gorbatchov.» («sempre de acordo com Moscovo, mesmo quando Moscovo mudava»?!... por favor!, que incoerência de texto!)
  • «Apesar das pessoas que, politicamente, foi eliminando, Cunhal tornou-se um ícone.» (... e não se podia exterminá-lo?!...)
  • «... é ortodoxo até à medula, mas consegue ser mais heterodoxo do que muitos camaradas de partido...»
Para terminar o seu texto, HM conta um episódio que dá gosto (melhor: gozo) transcrever:
«Pessoalmente, cobri a sua última campanha eleitoral. Andava sempre elegantemente vestido e tinha hábitos distintos. Havia, porém, um pormenor que me intrigava: nunca largava uma pochette, que transportava debaixo do braço. Durante toda a campanha perguntei-lhe o que trazia na bolsa e ele recusou sempre responder, embora de forma amável, acusando-me de querer publicar algo de "escandaloso" ou "reaccionário" no Expresso. Um dia, porém, em que estive a sós com ele (os jornalistas quase todos estavam a protestar por algum motivo), voltei à carga e perguntei:
- O que traz aí, dr. Cunhal?
Ele respondeu que me daria uma prova de confiança se eu jurasse não revelar a ninguém, coisa que cumpri até hoje. E então respondeu, pondo um ar severo:
- Uma bomba!
Fiquei sem saber o que dizer, até que ele, já com um sorriso desconcertante, me mostrou, a bomba de asma que transportava para o caso de ter uma crise.»

Fica o registo.


2 comentários:

  1. Encontramos todos esses registos nos manuais de anti-comunismo. Com o patrão Balsemão não se brinca.

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  2. Não é nesse artigo que é pensado, dito e escrito que o Álvaro apesar de ser sempre eleito deputado nunca exerceu a função?

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