Ajuste de contas

A primeira intenção foi a de propor a apresentação de uma peça de Avelino Cunhal, a integrar nas actividades do período em que se assinalou o centenário de Álvaro Cunhal. A peça escolhida foi Ajuste de Contas, editada na colecção repertório para um teatro actual da Prelo Editora.

A obra foi escrita por volta dos anos 40 de século XX, e insere-se num confronto de correntes literárias em que o neo-realismo foi central. O autor de um livro - "A estrada de Damasco" - é entrevistado para um jornal e expõe as suas opiniões sobre o papel da literatura, numa perspectiva conservadora, reaccionária, de denúncia e ataque a forças e correntes sociais que lutavam contra o fascismo e faziam da arte uma arma de mudança, e depois se confronta com o personagem que criou para dele se servir nesse seu combate.

O trabalho colectivo, como é o da construção de um "espectáculo" teatral - por amadores -, começou por uma adaptação do texto, estendendo-o por dois actos, com a intenção de melhor caracterizar, actualizar e localizar o "romancista" e todo o contexto, tornando-o mais claro e acessível para o espectador (não passivo, sem trair a mensagem do Autor, sem ser provocador e/ou panfletário. 

Só a sua apresentação dirá se tal terá sido conseguido ou não, após meses de trabalho que, pela sua inevitável extensão, levaram a que essa apresentação se faça a 7 de Março. Integra-se na habitual CENOURÉM, de Março e Abril de 2014.

Quanto à primeira intenção, ela não se perdeu ou esmaeceu e, para quem adaptou e encenou, nunca deixou de estar presente o nome do Autor e o significado profundo que quis dar à sua peça. Além de que, como aqui se pretende transmitir, o "centenário de Álvaro Cunhal" em todo o seu sentido continua sem fronteiras de datas e efemérides.