«Álvaro Cunhal é uma personalidade marcante, em Portugal e no mundo

domingo, 14 de junho de 2015

Um trabalho sério



O que lhes vem à cabeça quando pensam em Cunhal?
Jornal i
No dia em que se assinalam dez anos da morte de Álvaro Cunhal, fomos para a rua perceber que imagens guardam os portugueses do líder comunista.

Lançámos um primeiro desafio, reconhecer Cunhal em duas fotografias: uma da sua juventude, outra mais recente. Tido por muitos como o melhor político de sempre, Álvaro Cunhal é reconhecido pela fisionomia do seu rosto e pela coerência política que manteve ao longo da vida. Qualquer semelhança física com Salazar será pura coincidência de um estilo muito próprio daquele tempo.

Lúcia Ferraz, 68 anos

Não foi preciso mostrar a fotografia mais recente. “Será Salazar? Não, não.  É Álvaro Cunhal, não é?”. Pensava alto. Quando lhe mostrámos o segundo retrato, Lúcia, que tinha algumas reticências iniciais, ficou cheia de certezas. “Ah, sim. Vendo bem, Salazar não podia ser por causa do nariz e das sobrancelhas”, diz, apontando detalhadamente para os traços característicos. “Era um homem muito bonito. Sempre fui fã da obra dele.”

Joaquim Arsénio, 60 anos

“É uma pena ter morrido, revejo-me totalmente na política dele”. Joaquim fala com uma certa nostalgia do tempo do comunismo de Cunhal: “As coisas mudaram e o partido já não é o que era. As pessoas foram morrendo, a União Soviética desapareceu”. E um desencantamento face à política de hoje: “Mas digo-lhe uma coisa, se as pessoas parassem para pensar, votariam no PCP. Mas têm memória curta”, lamenta.


Rui Ramos, 55 anos

“Era um homem forte e lutador, tinha persistência no seu pensamento. Associo-o à liberdade que temos hoje. Tinha uma maneira de ser levado a sério que hoje os políticos não têm”, opina. Mas acima de tudo, aquilo que Rui sente é respeito pela figura que Cunhal foi, pela maneira como fez política de forma sempre coerente com ele próprio e com os ideais que defendeu ao longo da sua vida, apesar das adversidades.


Carolina Ribeiro, 19 anos

“Foi um preso político do antigo regime e por isso associo-o ao 25 de Abril. Esteve preso em Peniche. Sei disso porque até fui visitar a prisão”, diz Carolina. Essa é a primeira coisa que lhe vem à cabeça. “Sei também que desenhava bem e que pintava quadros. Mas não sei muito mais. Nas aulas de História não demos muito sobre Cunhal. Na nossa geração, só quem é autodidata é que poderá saber mais sobre o que fez e quem foi Cunhal”.


José Saraiva, 70 anos

“Era um homem lutador, um ‘pugilista’ apesar de ser magro. Foi um dos melhores ativistas portugueses. Deu a cara pela liberdade sem medo de morrer”, recorda. José, que está desencantado com a política, considera Cunhal “um dos maiores políticos que Portugal já teve”.  Recorda o tempo dos comícios na sua empresa, em 1975-1976, onde Cunhal discursava. “Agora a melhor profissão para se ter é a de corrupto”, ironiza.


Sara Boto, 16 anos

Sara não reconheceu nenhuma das fotografias, nem sabe dizer quem foi Cunhal. Tem uma boa justificação: quando o antigo dirigente do PCP morreu, Sara tinha só seis anos. Mas a mãe, Ana Margarida, de 53 anos, elucida-a: “Foi um dos políticos mais importantes antes do 25 de Abril. Lembro-me dos debates acesos que fazia. Antes os políticos agiam pela necessidade de intervir, agora é para se servirem a si próprios”


Isa Santos, 39 anos

Poderíamos interferir no primeiro pensamento que Isa teve sobre Cunhal para não ter palavras repetidas? Podíamos, mas não era a mesma coisa. Isa pensou duas e três vezes, a única que servia era mesmo “Liberdade”. Para a contabilista, Álvaro Cunhal foi um político que passou uma vida inteira a lutar pelos direitos do povo e dos trabalhadores. Mas não só: “escreveu vários livros e recentemente até saíram uns cartoons dele”, lembra.

Miguel dos Anjos, 56 anos
Para Miguel, Cunhal era austero, mas no sentido virtuoso. “Ser austero na vida, na relação com os outros, não significa privar os outros de nada”, esclarece. “Cunhal era austero porque impunha limites naquilo que é o poder, e noutras dimensões da vida. Era um homem sério, sensato, culto, não foi um oportunista. Não sei se foi o maior político de Portugal, mas duvido que o próprio PCPconsiga atingir níveis de coerência que Cunhal exemplificou.”

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