Um dos maiores restos de salazarismo que perdura na nossa comunicação social, diria mesmo, um dos maiores tiques fascistas que regressam ostensivamente, é canalhice de, sempre com a desculpa dos “critérios jornalísticos” censurar e boicotar da pior forma as actividades políticas e culturais que desagradam ao poder e aos donos dos meios de comunicação.
Digo “da pior forma”, porque bastante mais ofensivo do que uma crítica má, é o fazer-se de conta que um acontecimento... não aconteceu. Ofensivo pela censura descarada e pelo facto de se ver um exército de gente que se diz jornalista, pactuando com este estado (novo) de coisas.
Assim aconteceu, mais uma vez, com o fantástico momento político/artístico que um elenco “tremendo” de artistas de várias áreas protagonizou em amizade, camaradagem e espírito de unidade, na sessão que há dias teve lugar na Aula Magna, em homenagem à figura de Álvaro Cunhal.
O silêncio que se seguiu na comunicação social foi, como “ouvimos”, verdadeiramente ensurdecedor!
Assim sendo, o nosso companheiro e autor João Monge, que escreveu boa parte do guião que acompanhou todo o espectáculo, decidiu não se ficar... e escreveu um texto para fazer correr pelas redes sociais e pela própria comunicação social que nos ignorou. Fê-lo na forma de uma carta aberta que muitos de nós, participantes ou não, já assinámos por baixo.
Para não ser injusto para com aqueles que, entretanto, já juntaram os seus nomes à carta aberta, desde que o texto me chegou às mãos, direi apenas não há participante que não se reveja neste texto do João Monge. Aqui fica:
A propósito da Sessão Cultural Evocativa do Centenário de Álvaro Cunhal
CARTA ABERTA A UM AMIGO QUE NÃO SOUBE
Fizeste-me falta, pá! Não por mim, que lá estive, mas por ti que não soubeste… Eu sei da felicidade que retiras destas coisas e da partilha que dela fazes. Foi isso que me fez falta: a tua felicidade.
Sabes como a malta é, pusemos a mesa com microfones e tudo, chamámos os jornais, chamámos as rádios, chamámos as televisões… Só para te avisar, pá. Era a forma mais expedita que tínhamos à mão, e gostávamos tanto de te ter por perto. Mas não, a coisa não saiu, ou saiu envergonhadamente. Sinais destes tempos sem vergonha.
Depois o Álvaro não é tipo que se ignore e o número era redondo – o centenário – mas mesmo assim tu ficaste sem saber. Tiraram-te esse direito.
Foi tão bonita a festa, pá.
Lembras-te daquela tirada do Álvaro que começa assim: «Arte é liberdade. É imaginação, é fantasia, é descoberta e é sonho. É criação e recriação da beleza pelo ser humano e não apenas imitação da beleza que o ser humano considera descobrir na realidade que o cerca»? Lembras-te? Foi o nosso guião. Foi o guião dos músicos, dos cantores e dos actores que passaram pelo palco. A melhor maneira de comemorar a liberdade é exercê-la e, como tu sabes, pá, evocar o Álvaro é projectá-la para os dias que hão-de vir, para as liberdades que hão-de vir. E são tantas, amigo, e são tantas as liberdades que nos faltam…
O Álvaro teve a casa cheia, pelas costuras. Tu sabes como a malta é, abrimos as portas de casa para que alguém te fizesse chegar uma pequena luz do que lá se passou. Mas, enfim, foi o costume: tiraram-te esse direito.
Fizeste-me falta, pá. Mas ainda te vou ver a sorrir. Temos uma prenda para ti: filmámos tudo. E assim damos um outro sentido à falta que me fizeste.
É que, como diz o Palma, “enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar, a gente vai continuar”.
Um abraço, pá
E até já!
João Monge
Não nos calarão. Um dia perceberão que, quer o rio quer as margens, estarão ocupadas de gente que se ergue, "levantados do chão", ou da corrente...
ResponderEliminarExcelente texto.
ResponderEliminarSubscrevo,como tantos já o fizeram.
Com um abraço
Não soube da Sessão, pá!.. e quando soube já cheguei tarde!!!
ResponderEliminarsei que foi linda a festa, pá! fico contente!! porque sei como a malta é quando se junta, pá!
fico à espera de ver a sessão evocativa que filmaram, pá!! fico à espera pá desse cheirinho de alecrim...
se uns calam outros não!!!!e venham mais sessões...
jornalistas??? onde? não existem.