«Álvaro Cunhal é uma personalidade marcante, em Portugal e no mundo

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Cartas ao Director - Público.pt



AFONSO HENRIQUES CULPADO

Cristo não agradou a toda a gente e por isso foi crucificado. Mas, tal como não é justo crucificar ou incinerar quem dele discorde, também não o é atribuir-lhe actos ou opiniões ofensivas da verdade. Vasco Pulido Valente (V.P.V.) detesta Álvaro Cunhal (A.C.), como é seu direito. Mas não tem o direito de o difamar e de lhe atribuir intenções em contradição com o historicamente documentado. No PÚBLICO de 15/11/13, V.P.V. afirma que A.C. “planeava transformar Portugal numa espécie de Bulgária” (sic) quando ele sempre defendeu, em público e em inúmeros documentos, não copiar nenhum modelo existente e que seria o povo a determinar o socialismo a construir. A.C. é acusado de ser “o promotor do PREC, o responsável pelas ‘nacionalizações’ e pela ocupação dos latifúndios, o desorganizador da economia, o inimigo da ‘Europa’” (sic). E termina responsabilizando A.C. da “miséria” e “desespero” dos portugueses.
A.C. foi ministro sem pasta nos primeiros governos pós-25 de Abril de 1974, onde predominavam ministros como Mário Soares, Sá Carneiro e os seus acólitos. Devia ter grandes poderes de persuasão, pois PS e PPD festejaram nas ruas as nacionalizações e a reforma agrária, destruída pouco depois por António Barreto. A missão da OCDE, em 15/12/75, emitiu um relatório a concordar com as medidas tomadas e que a economia portuguesa estava bem. Mas foi a seguir, sobretudo nos dez anos do reinado de Cavaco Silva, que se destruiu a nossa indústria pesada e se deram subsídios para desmantelar a nossa frota pesqueira e para não se lavrarem as nossas terras, em prol da adesão à CEE/UE. A.C. defendia acordos comerciais com a UE e não a adesão que nos retirou a soberania e nos impede de comandar as nossas finanças, como hoje estamos a sofrer. Tal como não defendeu a privatização da banca que deu resultados como as vigarices do BPN e do BPP, as irregularidades no grupo Espírito Santo ocultas no conflito entre primos, a aplicação pelo Estado dos milhares de milhões de euros pedidos de empréstimo para cobrir complicações no BCP e no Banif, a inoperância fiscalizadora do Banco de Portugal com a promoção (!!!) do seu primeiro responsável a vice-presidente (!!!) do BCE. A mesma política de privatização pôs no estrangeiro, incluindo no Brasil e na China, o comando de sectores estratégicos da nossa economia, como cimentos, petróleos, electricidade, telecomunicações. Sempre com a enérgica oposição de A.C..
Pacheco Pereira, em dois dias e quatro páginas do PÚBLICO, não desceu tão baixo, ficou-se por insinuações e mistérios, mas V.P.V. acusa A.C. de ser responsável pela pobreza em que descai o nosso país. Não, a culpa é de Afonso Henriques, que desrespeitou a mãe, provocou a desonra do seu aio perante o rei de Leão e criou um país sempre disposto à subserviência aos poderosos, devido também a comentadores engajados que não se envergonham de falsificar os factos. Também como autocrítica, concluo que a velhice ensandece…
M. Gaspar Martins, Porto

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